Aqui mostram um magano de um americano bacano a falar de um filme onde entrou.
Tuesday, January 29, 2013
Monday, January 21, 2013
"Odisseia" na RTP - Opinião
Nos blogues começa-se com uma imagem sobre o tema que se escreve.
É-me difícil encontrar na televisão algo que me agrade.
Isto deve-se principalmente a três factores. O primeiro, a minha progressiva alteração de valores pessoais (cínico, em progresso de remoção da sociedade, que resulta em que me saltem à vista os propósitos dos senhores da televisão em promover/vender determinados produtos/estilos de vida/ideias político-sociais que são parte do problema).
Em segundo, o facto de procurar aprofundar o meu conhecimento sobre criação de ficção audiovisual, tendo lido (e escutado) um pouco sobre como é feita (principalmente escrita, edição e realização), o que me obriga a avaliar a ficção sob um olhar diferente daquele que tinha quando era um espectador desinformado, "estragando-me" certos prazeres de séries que antes poderia achar fenomenais, e agora reconhecer que se limitam a seguir à risca o guia há muitos anos estabelecido (e por outro lado, apreciar coisas a que antes não dava valor, como a qualidade técnica na produção de telenovelas portuguesas).
Em terceiro lugar, o facto de preferir investir o meu tempo imerso no novo canal de comunicação/criação/transmissão de informação/entretenimento, que em breve tornará a televisão, no seu formato actual, obsoleta (refiro-me a pessoas ligadas por computadores, que é a Internet)
Assim, são raros os momentos que ache que valha a pena sentar-me em frente em frente ao rectângulo brilhante onde aparecem pessoas maquilhadas, que tenho na sala. Tem de ser ficção de qualidade, ou informação que tenha mais informação do que propaganda ou dramatização barata.
Vi por acaso o anúncio à série "Odisseia", com dois dos meus actores portugueses favoritos (Gonçalo Waddington e Miguel Borges, que vi brilhar no "Coisa Ruim", do mesmo realizador desta série), e com o comediante português Adrien Brody que é um tipo com iguais doses de piada e mioleira. A colaboração deste com Gonçalo Waddington e outros (excelentes) artistas no "Último a Sair" deu frutos. A qualidade da imagem é fantástica, em formato de filme, o que a torna muito atractiva. Com todos estes factores (nem eram precisos tantos!), achei que valia a pena experimentar.
Esperei sentado no sofá pelo seu começo, e a partir dos primeiros momentos, um sorriso formou-se-me: uma cena contínua, longa, sem cortes, de Miguel Borges a declamar poesia como se citada de um qualquer clássico grego, com a naturalidade de quem diz "até logo". E um texto com camadas. Camadas de complexidade. Uma coisa que se nota que foi trabalhada, e que a gente pode passar momentos a discutir e a debicar. Apercebi-me logo que os criadores estão a dar o seu melhor, a apontar para o alto, qual Ícaro. Não é o tipo de coisa que Portugal mereça, mas é o tipo de coisa Portugal precisa (acho que ouvi isto num filme).
E depois é bué de "meta". Mas é um "meta" que lhe acrescenta valor, conseguem não só usar "meta" para fazer humor, mas para aprofundarem a história, questionarem e criarem cumplicidade com o caro teleespectador. Em fim, é novo, é diferente, e o melhor é, é bom.
A realização está impecável, os actores têm uma chance de exercitarem os seus músculos, e a escrita mantém-se com camadas para além da cena inicial. Provavelmente vai-me pôr a ler (finalmente) a Odisseia (aquela dos gregos pré-crise), para poder melhor saborear as metáforas, os paralelismos, e outros termos que aprendi no liceu. Enfim, resumindo, as camadas.
E sim, apesar da cena inicial não o indicar (e eu via aquela série, com um comediante de sucesso num momento de arrependimento pós tentativa de suicídio, num tom deprimentemente sério!), é bastante engraçada, com Bruno no seu estilo misantropo totalmente apurado, um estilo que tanto êxito tem feito em protagonistas de séries de ficção americanas, que cá consumimos em grandes quantidades, mas sem um décimo do valor desta.
Gonçalo Waddington finalmente tem o seu prime-time, e não desaponta, mostrando todo o seu "range", desde carinhoso pai num fim de casamento ingrato, a "obrigar" o Bruno a estragar uma cena várias vezes com risota por causa da quantidade de grelo que já comeu à custa daquela autocaravana (e o monólogo metéorico que se segue).
Nos próximos Domingos lá estarei, e continuarei a estar, mesmo se a série for atirada para o melhor horário televisivo (pós meia noite), para dar lugar a um concurso adaptado de formato americano com público e apresentadores efusívos, com conteúdo estupidificante cem, conteúdo formativo zero, ou o Prós e Contras, programa de masturbação político-social.
É-me difícil encontrar na televisão algo que me agrade.
Isto deve-se principalmente a três factores. O primeiro, a minha progressiva alteração de valores pessoais (cínico, em progresso de remoção da sociedade, que resulta em que me saltem à vista os propósitos dos senhores da televisão em promover/vender determinados produtos/estilos de vida/ideias político-sociais que são parte do problema).
Em segundo, o facto de procurar aprofundar o meu conhecimento sobre criação de ficção audiovisual, tendo lido (e escutado) um pouco sobre como é feita (principalmente escrita, edição e realização), o que me obriga a avaliar a ficção sob um olhar diferente daquele que tinha quando era um espectador desinformado, "estragando-me" certos prazeres de séries que antes poderia achar fenomenais, e agora reconhecer que se limitam a seguir à risca o guia há muitos anos estabelecido (e por outro lado, apreciar coisas a que antes não dava valor, como a qualidade técnica na produção de telenovelas portuguesas).
Em terceiro lugar, o facto de preferir investir o meu tempo imerso no novo canal de comunicação/criação/transmissão de informação/entretenimento, que em breve tornará a televisão, no seu formato actual, obsoleta (refiro-me a pessoas ligadas por computadores, que é a Internet)
Assim, são raros os momentos que ache que valha a pena sentar-me em frente em frente ao rectângulo brilhante onde aparecem pessoas maquilhadas, que tenho na sala. Tem de ser ficção de qualidade, ou informação que tenha mais informação do que propaganda ou dramatização barata.
Vi por acaso o anúncio à série "Odisseia", com dois dos meus actores portugueses favoritos (Gonçalo Waddington e Miguel Borges, que vi brilhar no "Coisa Ruim", do mesmo realizador desta série), e com o comediante português Adrien Brody que é um tipo com iguais doses de piada e mioleira. A colaboração deste com Gonçalo Waddington e outros (excelentes) artistas no "Último a Sair" deu frutos. A qualidade da imagem é fantástica, em formato de filme, o que a torna muito atractiva. Com todos estes factores (nem eram precisos tantos!), achei que valia a pena experimentar.
Esperei sentado no sofá pelo seu começo, e a partir dos primeiros momentos, um sorriso formou-se-me: uma cena contínua, longa, sem cortes, de Miguel Borges a declamar poesia como se citada de um qualquer clássico grego, com a naturalidade de quem diz "até logo". E um texto com camadas. Camadas de complexidade. Uma coisa que se nota que foi trabalhada, e que a gente pode passar momentos a discutir e a debicar. Apercebi-me logo que os criadores estão a dar o seu melhor, a apontar para o alto, qual Ícaro. Não é o tipo de coisa que Portugal mereça, mas é o tipo de coisa Portugal precisa (acho que ouvi isto num filme).
E depois é bué de "meta". Mas é um "meta" que lhe acrescenta valor, conseguem não só usar "meta" para fazer humor, mas para aprofundarem a história, questionarem e criarem cumplicidade com o caro teleespectador. Em fim, é novo, é diferente, e o melhor é, é bom.
A realização está impecável, os actores têm uma chance de exercitarem os seus músculos, e a escrita mantém-se com camadas para além da cena inicial. Provavelmente vai-me pôr a ler (finalmente) a Odisseia (aquela dos gregos pré-crise), para poder melhor saborear as metáforas, os paralelismos, e outros termos que aprendi no liceu. Enfim, resumindo, as camadas.
E sim, apesar da cena inicial não o indicar (e eu via aquela série, com um comediante de sucesso num momento de arrependimento pós tentativa de suicídio, num tom deprimentemente sério!), é bastante engraçada, com Bruno no seu estilo misantropo totalmente apurado, um estilo que tanto êxito tem feito em protagonistas de séries de ficção americanas, que cá consumimos em grandes quantidades, mas sem um décimo do valor desta.
Gonçalo Waddington finalmente tem o seu prime-time, e não desaponta, mostrando todo o seu "range", desde carinhoso pai num fim de casamento ingrato, a "obrigar" o Bruno a estragar uma cena várias vezes com risota por causa da quantidade de grelo que já comeu à custa daquela autocaravana (e o monólogo metéorico que se segue).
Nos próximos Domingos lá estarei, e continuarei a estar, mesmo se a série for atirada para o melhor horário televisivo (pós meia noite), para dar lugar a um concurso adaptado de formato americano com público e apresentadores efusívos, com conteúdo estupidificante cem, conteúdo formativo zero, ou o Prós e Contras, programa de masturbação político-social.
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