Descobri os prazeres do queijo. Atacou-me um rompante de desejos, muito específico no seu pedido. Fui até ao frigorífico, recolhi o derivado de lacticínio e uma faca para o meu covil selecto, num pequeno tabuleiro de madeira que muito me agrada. Partindo grossas rodelas do dito queijo - um desses redondos de casca vermelha que se adquirem nas mais refinadas superfícies hipermercantis, de marca agora incerta (um Terra Nostra possivelmente, de consistencia resistente, não chegando à viscosidade de um Limiano) - e dedicadamente, seccionando cada uma dessas rodelas usando de linhas verticais e horizontais, a delícia acrescida de esculpir o sabor para agradar ao sonho visual - deveras claro! - do desejo. Encontra-se este dividido em cubos, praticamente a implorarem por que os tome por entre as pontas de quaisquer dois dedos à escolha, e os introduza rapida porém atentamente na minha voraz cavidade oral.
...
Quando se encontra o tabuleiro vazio de cubinhos da amarela substância, de consistente textura, já apenas populado com as cascas que este para trás deixou, segue-se a repetição do ritual, todo ele uma dança, uma dedicada arte de, lentamente, provocar, e, eventualmente, finalmente satisfazer o gosto papilar, que simples, porém requintados, pedidos (ordens mesmo) por vezes nos coloca.