Wednesday, January 30, 2008

Estórias de viação

a imagem à esquerda é animada, mas o blog manda que tenham de clicar para ver. fui eu aqui há umas semanas. acabou em bem


Tenho os faróis do carro apontados para o céu. Isto deve-se não a uma qualquer configuração mecânica mal feita, ou ao ocasional (hipotético) encontro próximo com um pára-choques/muro de infeliz colocação em determinado momento, mas sim ao meu desejo de vaporizar os demónios que habitam as estradas de Portugal, e que tantos condutores possuem (sempre naquele meu desejo de contribuição à sociedade).

Quando conduzo à noite, com os médios, reparo que muitos condutores se mostram incomodados, lançando-me máximos meros momentos antes de se cruzarem comigo(impossibilitando-me de lhes responder). Isto deve-se ao facto de os meus simples médios para o céu apontados se assemelharem a máximos, pois iluminam tudo à volta do carro, quais faróis da esperança e boa-vontade.

O condutor português, devido à sua baixa-estima (incutida certamente ao longo da vida por figuras de autoridade castradoras e anti-positivas) sente que qualquer inconveniência que lhe surja seja causada absolutamente de propósito e com a finalidade única de lhe causar prejuízo, vindo do puro sentido de malícia dos Outros ou do negro mundo em geral. Daí que, sempre que se sente injuriado, deva responder em igual ou muito superior moeda, de forma a restabelecer a justiça nas estradas, e mostrar quem manda Aqui! (que será dentro das 3/5 portas do seu corcel a motor, equipadas, ou não, com fecho automático centralizado).

Com vista a diminuir o sentimento de ofensa potencialmente percepcionada pelo meu próximo, iniciei a utilização de um protocolo improvisado: assim que me aproximo de um carro, imediatamente envio uma sucessão de rajadas de máximos, para indicar que os meus médios permitem para alumiar o caminho e em simultaneo estudar a fauna existente nos ramos superiores das altas árvores que cercam a estrada.
Este pequeno gesto ajuda o condutor que se cruza comigo a sentir-se tranquilo e pacífico, talvez intimidado por saber que alguém tem um farol com mais potência que o seu obrigatória referência freudiana.

Curiosamente, este acto gera nos outros condutores um comportamento imprevisto. Ao receberem um piscar de máximos inesperado de outro condutor, gentil e educadamente respondem com um igual, como se ali se tivesse estabelecido um elo de ligação entre condutores da noite, no rápido encontro numa estrada escura, num momento de caminho em direcção aos destinos de cada um. É um pensamento reconfortante, pensar que se consegue estabelecer uma relação de forma tão instantânea.

Recomendo que experimentem mandar uma piscadela de máximos à noite de vez em quando. Será sem dúvida uma experiência interessante.

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